Perdere diem!

Por Rômulo Souza

Alguns dias atrás recebi um a mensagem de uma grande amiga, com a minha lerdeza de sempre demorei algumas horas para vê-la. Imaginei que seria uma mensagem qualquer, mas a leitura revelou-se o pedido de uma mãe aflita: seu filho pensa em ser sacerdote mas enfrenta a total resistência da família paterna. “É um desperdício de vida”, diz o pai do moço.

Minha primeira reação foi aquele pensamento recorrente em muitos de nós de que “antigamente as coisas eram melhores”, pensamento este que estranhamente retroage até chegar a um neandertal com os braços erguidos em alegria e gritando “isso que é vida”, logo antes de morrer aos vinte e poucos anos.

Pra ser bem sincero esse pensamento por minha parte não durou muito, logo me lembrei de grandes santos que também tiveram esta mesma resistência por parte de seus genitores. O primeiro que me veio a mente foi o São Tomás de Aquino, que chegou ser preso em uma torre no castelo da família e tentado a ceder aos prazeres da carne com uma prostituta contratada por seus irmãos. Sua resposta foi educadamente ameaçar a moça com um atiçador de lareira. Ainda mais famoso é a briga pública de São Francisco de Assis com seu pai, sendo deserdado e devolvendo até as roupas que vestia a ele. Outros exemplos são abundantes, vai de Santa Clara chegando ao extremo de Santa Bárbara, entregue a morte pelo próprio pai. Até mesmo entre os santos é difícil ter um casal Martin como progenitores.

Voltando agora ao nosso caso, a minha conversa com a mãe do rapaz me proporcionou alguns insights que possibilitaram a escrita deste maçante e linguisticamente sofrível texto. A primeira coisa abordada foi a vocação como algo ocupacional, e não provido pela Graça. De fato, mesmo entre os católicos da nossa amada Terra de Santa Cruz a opção pelo sacerdócio é logo repelida como se fosse absurda, sofrida e até mesmo um mal para o candidato. Vocação hoje significa o que você fará para ganhar o pão de cada dia, qual faculdade cursar, qual carreira seguir.

Em última análise, a vida consagrada a Deus, sendo ela para levar os sacramentos aos demais fiéis ou na clausura, vivendo cada segundo como uma oportunidade para conhecer, ainda nesta vida, o máximo possível da Face de Deus, é sim um “desperdício de vida”. Quem quiser salvar sua vida, a perderá, mas quem, por causa de Cristo, a perde-la, então a salvará. Quem quiser salvar sua vida, que faça pouco caso, que não se importe com ela, que a desperdice.

Desperdiçar a vida neste contexto significa não ter uma esposa, ou na verdade ter como esposa toda uma comunidade. Também significa não ter filhos, ou pelos menos não passar adiante os seus genes, e ser o pai espiritual de uma coletividade. Ao invés de cuidar do corpo e das necessidades temporais, gasta-se a vida criando, corrigindo, educando e acima de tudo perdoando todos aqueles colocados sob sua responsabilidade. Que belo e sublime desperdício!

Memento Mori – Perdere Diem!